O Holocaust Memorial Center foi sem dúvidas o museu mais impressionante que já visitei. Ele fica em Budapeste, a capital da Hungria. Já escrevi alguns posts sobre essa cidade e neles mencionei que ela foi extremamente afetada pela Segunda Guerra Mundial. Inclusive tem alguns monumentos espalhados pela cidade que lembram essa parte triste da história. Dessa forma, o Holocaust Memorial Center, além de manter a memória das vítimas do Holocausto Húngaro, é de extrema relevância para que não esqueçamos o que realmente aconteceu e, principalmente, para nunca mais permitirmos tais atrocidades.

Um pouco de história
Para entender melhor a importância do Holocaust Memorial Center, cabe dizer que a Alemanha invadiu a Hungria em março de 1944. Quando instalou o governo de Döme Sztókay, que respondia diretamente ao Terceiro Reich. Um governo de extrema direita, formado também por fascistas e que hostilizavam os judeus. Com o tempo, uma das ações desse governo foi legalizar o Partido Arrow Cross (Partido da Cruz Flechada, em Português) que era bem semelhante ao Partido Nazista.
Nesse período, relata-se que a maioria dos judeus húngaros foram colocados à disposição dos alemães para trabalhos forçados. E logo em seguida decidiram deportar todos os judeus da Hungria.

Ainda em 1944, os judeus passaram a ser deportados para os campos de concentração de Auschwitz, na Polônia. Há registros de cerca de 12.000 judeus húngaros transportados diariamente através de trens de carga durante todos os dias por meses seguidos. Consta um registro datado de 20 de julho de 1944 mencionando o 138º trem que passou pela cidade de Kosice, com a 400.426ª vítima indo para Auschwitz por essa rota. Lembrando que havia mais rotas saindo de Budapeste para os campos de concentração.

Como em outros países da Europa, em Budapeste também foram criados os guetos onde os judeus eram forçados a “viver” durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, eles ficavam isolados da sociedade, sem permissão de saírem sequer para comprar comida. Com isso, muitos morreram de fome ou com de alguma doença, pois, obviamente, eram impedidos de receberem tratamentos médicos. Os judeus eram obrigados a usar uma Estrela Amarela (Estrela de Davi) como símbolo de vergonha e de identificação. Entre os meses novembro de 1944 e fevereiro de 1945, milhares de judeus e ciganos foram executados nos guetos de Budapeste e outros às margens do rio Danúbio pelos Nyilas (membros do Partido Arrow Cross).

A importância do Holocaust Memorial Center
Muitos registros foram destruídos pelos alemães quando perceberam que perderiam a guerra. Por isso, não se pode afirmar o número exato de vítimas desse genocídio. Contudo, estima-se que mais de meio milhão de judeus e cerca de 28 mil ciganos assassinados no holocausto eram húngaros.
O Holocaust Memorial Center é uma instituição nacional criada pelo governo húngaro em 1999. Um centro de pesquisa científica, educação e cultura que oferece várias exposições periódicas e permanentes sobre o Holocausto.

Em 2002 o governo optou por construir o museu fora do bairro judeu com intuito de enfatizar que é um local nacional de lembrança. Somente em 2004 inauguraram oficialmente o Holocaust Memorial Center .
Para a Instituição, preservar as memórias da tragédia é uma questão nacional e eles têm como missão: pesquisar, resgatar e apresentar de forma realista e adequada os acontecimentos do passado. Com o objetivo de ensinar a história do Holocausto e manter viva as lembranças em memória das vítimas.
O que ver no Holocaust Memorial Center
Coleção e Salas de Exposições
Logo no início da visita entramos na sala onde vemos uma coleção de objetos, documentos e itens que pertenceram aos judeus mortos durante o Holocausto, a maioria deles doada por parentes das vítimas. Em seguida passamos por corredores onde ouvimos os sons de passos e barulhos de trem enquanto vemos fotos e vídeos dos judeus sendo levados pelos nazistas para o campo de concentração em Auschwitz. É bem angustiante.

Mas, nada se compara aos arquivos dispostos nas salas de exposições subterrâneas a seguir. Cartazes, anúncios, relatos, fotografias, vídeos e uma série de informações sobre as atrocidades cometidas contra os milhares de judeus que são um verdadeiro “soco no estômago”.

Enquanto eu lia os relatos de sobreviventes, partes da história pessoal de pessoas que tiveram suas vidas mudadas de forma tão devastadora e cruel, eu só conseguia chorar e a sensação de nó na garganta diante de tamanha maldade é sufocante, revolta e faz a gente perceber que o ser humano é capaz de crueldades inimagináveis.
Há também utensílios e uniformes usados pelos judeus nos campos de concentração, vários relatos históricos e partes do Diário de Anne Frank (um livro que me marcou muito, impossível não envolver e se emocionar com sua história).

Um fato interessante é que o arquiteto István Mányi, que planejou esse edifício, colocou propositalmente esses espaços de exposições sobre o Holocausto em salas subterrâneas, como forma de expressar que a história exibida ali representa um período sombrio da moralidade e ética humanas.

Na verdade, tudo está muito bem planejado, as colunas e o piso inclinados, a distorção dos tetos, o trajeto que percorremos meio escuro até chegarmos à subida para a igreja que foi reconstruída, tudo nos proporciona uma verdadeira imersão nessa parte triste da história.

Sinagoga do Holocaust Memorial Center
A visitação termina numa pequena e linda sinagoga. Quando cheguei nessa parte, me deparei com uma bela arquitetura e confesso que fiquei admirada, aquele azul me trouxe uma sensação boa. Mas, eu estava tão impactada com o que acabara de ver que passei alguns minutos ali assimilando tudo. Só depois me dei conta que ali também havia cartazes, fotos e homenagens com informações sobre diversas famílias vítimas do Holocausto.

Projetada inicialmente no final do séc. XIX e inaugurada em janeiro de 1924, o espaço passou por transformações ao longo dos anos e serviu até de campo de treinamento durante os anos 1944-45. Em 1999 a Federação das Comunidades Judaicas da Hungria doou o prédio para o Holocaust Memorial Center e em 2003 o mesmo foi restaurado com base em uma foto do ano 1930.
Com isso, o teto e as paredes com pintura e gesso decorativos foram reconstruídos e formam colocados vários bancos de vidros com fotos e informações dos membros das comunidades judaicas que foram destruídas no Holocausto.
Atualmente esta Sinagoga é um espaço para eventos culturais, conferências e exposições.

1 – Unidades do Exército alemão invadindo a Hungria; 2 – Foto da deportação tirada na estação ferroviária de Körmend; 3 – Homenagens à alguns dos libertadores de Auschwitz; 4 – Folhetos e cartazes anti-semitas alemães de 1941 e 1942.
Muro Memorial das Vítimas
Do lado de fora ainda há uma lista imensa onde estão gravados os nomes de judeus mortos e desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial. Uma forma de homenagear e lembrar das vítimas desse genocídio.
O artista gráfico Lázló Zsótér projetou uma parede de vidro de 8 metros de altura que pode acomodar até meio milhão de nomes gravados a laser. Atualmente há mais de 150.000 vítimas identificadas. Há também espaços vazios nessa lista que representam as várias vítimas anônimas do Holocausto na Hungria.

Importante dizer que é possível pesquisar sobre algum parente no banco de dados digital das vítimas, mediante solicitação. Assim como, também é possível fornecer dados relevantes para as pesquisas. Parentes das vítimas e sobreviventes que tenham informações sobre os judeus deportados devem preencher um formulário da Instituição. Caso tenha interesse e possa contribuir com as pesquisas, clique aqui para acessar o link e baixar o formulário.

Torre das Comunidades Perdidas
Ainda no pátio interno do Holocaust Memorial Center, também projetado pelo artista Lázló Zsótér, há uma lista com 1441 nomes de assentamentos onde comunidades judaicas foram aniquiladas durante a Segunda Guerra Mundial.
Esses nomes foram coletados e pesquisados por Imre Rákos. Estão dispostos em 12 painéis de vidro expostos na parte externa da torre de entrada para a sala de exposições desde abril de 2007.

Seguindo pelo pátio interno, há seis pilares que simbolizam as seis milhões de vítimas do Holocausto. Além disso, no museu há um espaço com uma livraria e uma cafeteria.

Visitação ao Holocaust Memorial Center
Valores:
- Individuais – 2.400 Ft
- Grupo mínimo de 10 pessoas – 1.700 Ft
- Há opções de descontos para menores de 26 anos e maiores de 62 anos, cidadãos do EEE (Espaço Econômico Europeu). Bem como opções de entradas gratuitas. Para compra de bilhetes e informações atualizadas, acesse o site oficial.
Pode-se reservar visitas guiadas para grupos, que estão disponíveis em cinco idiomas.
- Em húngaro – 6.900 Ft por grupo
- Em inglês, francês, alemão, italiano, russo ou espanhol – 9.400 Ft por grupo
Horário de funcionamento:
- De terça a domingo entre 10h e 18h. Não abre às segundas-feiras.
- A bilheteria fecha a partir das 15h.
- A biblioteca funciona de 10h às 16h.

Como chegar:
Endereço: H-1094 Budapest, Páva utca 39
- Metrô Linha M3 (linha azul) – Estação Ferenc Körút.
- Tram (bonde) Linha 4-6 – Estação Üllői út / Parada Corvin-negyed
- Tram (bonde) Linhas 51-51A – Parada da Rua Bokréta
Telefone: +36 1 455-3333
E-mail: info@hdke.hu
Vale a pena a visita ao Holocaust Memorial Center?
Enfim, nós passamos quase 2 horas nesse museu e penso que é uma visita angustiante, mas necessária. Me emocionei bastante, saí arrasada de lá e levei um bom tempo para digerir tudo que vi, mas vale muito a pena. Comentei isso em um post que escrevi sobre Berlim, na minha opinião é importante mantermos vivas essas memórias para que não aceitemos que algo tão abominável como o Holocausto volte a acontecer. Além disso, o trabalho, a dedicação, os frutos de muitas pesquisas que presenciamos nesse museu é algo de valor incalculável, foi gratificante ver o quanto se importam e como apresentam as informações e provas do Holocausto. Então, se você gosta de história e de saber realmente o que aconteceu, sugiro que faça essa visita; com certeza terá uma noção bem maior dos fatos, diferente do que vemos em livros e filmes.
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Mto interessante. Uma pena que estive pouco tempo e não consegui visitar mas fiquei mto curiosa pra conhecer esse museu. A parte do corredor em que se ouve o barulho dos trens me deixou arrepiada só neve ler.
Qdo voltar vou nesse museu com certeza.
Achei bem completo também, o artigo todo cheio de informações importantes sobre o museu.
Esse tipo de turismo e “conhecimento deve ser destacado pq nao podemos esquecer de tudo o que a humanidade é capaz
Obrigada pelo feedback, fico feliz que tenha gostado post. Realmente a parte do corredor impressiona bastante, lembro que meu coração ficou acelerado a partir desse ponto. Você com certeza vai amar visitar esse museu, o trabalho deles é admirável. ☺️😘