Anne Frank e o Anexo Secreto 

A ideia de escrever sobre Anne Frank e o Anexo Secreto surgiu depois que visitei, no final do ano passado, o Museu Casa de Anne Frank em Amsterdam. Eu queria fazer essa visita há tanto tempo e estar lá me marcou de tal forma que resolvi escrever sobre a história de Anne Frank e das outras 7 pessoas que, ao longo de 2 anos, se esconderam com ela no anexo secreto, ou na “casa de trás” como também ficou conhecido o famoso esconderijo descrito por Anne em seu diário, durante a Segunda Guerra Mundial.

Muito se fala de Anne e pouco se fala dessas outras pessoas, bem como também não se fala muito das pessoas que os ajudaram durante esse período. Tudo que contarei em seguida é baseado em informações que li a respeito dessas pessoas e, em grande maioria, baseado nas informações que obtive no museu e no livro “Anne Frank no Esconderijo – Quem Era Quem”. 

Quem foi Anne Frank

Acredito que a maioria das pessoas já tenha ouvido falar sobre Anne Frank, mas de qualquer forma, penso que é bom começar contando um pouquinho da história dela e do contexto histórico para quem ainda não conhece. 

Annelies Marie Frank era judia e nasceu em 12/06/1929 em Frankfurt, na Alemanha. Aos quatro anos de idade passou poucos meses na casa da avó materna enquanto seus pais (como milhares de outros judeus alemães naquela época) tentavam outro lugar para refazerem suas vidas, longe das ameaças nazistas. 

No início de 1934 se mudou para Amsterdam com seus pais, Otto e Edith e com sua irmã, Margot. Ao logo dos anos, entre outras tentativas de sair de Amsterdam, seus pais tentaram emigrar para os Estados Unidos, mas não conseguiram.

Foto tirada da página 2 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Contexto Histórico

Em 10 de maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu a Holanda e começou a implementar medidas anti-semitas no país. Essas medidas incluíam restrições para judeus, como a proibição de andar em bondes e frequentar teatros e cinemas, horários pré-determinados para sair de casa, uso obrigatório de uma estrela judia na roupa como forma de identificação, impedimento de ser proprietário de empresas e ter determinados cargos, e limitação do acesso de crianças a escolas não-judaicas. Estas medidas discriminatórias foram aplicadas não apenas na Holanda, mas também em outros países ocupados pela Alemanha.

Estrela Amarela usada para a identificação Judaica durante a Segunda Guerra Mundial

Nessa época, Anne estava com 11 anos e teve que deixar a escola de ensino Montessori e passar a estudar no Liceu Judeu. Foi também nesse ano que seu pai Otto, passou suas duas empresas para os nomes de amigos não-judeus, porém continuou administrando tudo sem levantar suspeitas.

A situação dos judeus só piorava e em julho de 1942 os nazistas iniciaram as deportações dos judeus para os campos de concentração, onde milhares de pessoas foram exterminadas.

A fuga para o Anexo Secreto

Em 05 de julho de 1942 Margot, irmã de Anne, recebeu uma convocação para um “campo de trabalho” na Alemanha. Com isso, no dia seguinte a família Frank saiu de sua casa e passou a se esconder na casa dos fundos da empresa que pertencia ao pai de Anne. Anne somente se inteirou de onde seria o esconderijo no momento da fuga, mas dias antes seu pai havia lhe dito que sua mãe e ele estavam preparando um local, com a ajuda de alguns amigos e funcionários, para a família se esconder em caso de necessidade.

O acesso ao esconderijo, conhecido como “Anexo secreto”, “Casa dos fundos” e também como “Casa de trás”, ficava protegido por uma estante giratória que foi construída por Johannes Voskuijl, funcionário de Otto Frank e pai de Bep.

Foto da Maquete do Anexo Secreto – Parte da estante giratória que ocultava a entrada para o esconderijo

Na semana seguinte chegaram para compartilhar o esconderijo com eles uma família de amigos de seu pai. Os Van Pels, Sr. Hermann, Sra Auguste e o filho deles, Peter. Quatro meses depois chegou o último clandestino, Sr. Fritz Pfeffer. Cada pessoa tinha uma função no Anexo Secreto e, dessa forma, essas oito pessoas viveram escondidas, passando por situações diversas, enfrentando medos, desavenças e privações por cerca de 2 longos anos.

Quem eram os outros 7 clandestinos no Anexo Secreto

Vale dizer que Anne, ao reescrever seus diários, optou por usar nomes falsos para as pessoas do esconderijo. Caso um dia conseguisse publicar um livro sobre a história do Anexo Secreto, sua família seria chamada de Robin ao invés de Frank e os Van Pels chamados de Van Daan. Por isso, algumas pessoas citadas no livro têm pseudônimos. 

Otto Frank 

Pai de Anne de Margot – era alemão, de uma família judia abastada. Chegou a ser tenente na Primeira Guerra Mundial. Com o passar dos anos assumiu os negócios da família e casou-se com Edith com quem teve duas filhas, Anne e Margot. Após Hitler assumir o poder na Alemanha, ele se muda com a família para Amsterdam onde funda uma unidade da empresa Opekta e, posteriormente, cria a empresa Pectacon. Após tentativas fracassadas de emigrar, articula com os amigos a fuga para o esconderijo no Anexo Secreto. Sempre foi visto pelos demais como um líder e uma pessoa justa. No Anexo Secreto ele era meio que o responsável por todos, fazia um papel de pacificador, ajudava as crianças com as lições de casa e mantinha suas atividades referentes ao comando das empresas. 

Foto tirada da página 2 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Edith Frank-Holländer 

Mãe de Anne de Margot – também era alemã e judia. Sempre teve uma vida confortável e gostava de ler e praticar esportes. Com a mudança para Amsterdam, a vida passou a ser um pouco mais limitada e precisou aprender a lidar com as diferenças. Sua função no Anexo Secreto era cuidar da limpeza, consertar as roupas das filhas, além de cuidar de sua família.

Durante os anos no esconderijo ela ficou muito abatida, com sintomas depressivos que tentava disfarçar na frente da família. Era tida como uma pessoa dedicada e confiável. 

Foto tirada da página 2 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Margot Betti Frank 

Irmã de Anne – Nasceu em Frankfurt três anos antes de Anne. Em Amsterdam dominou rapidamente o novo idioma, era modesta, prestativa e gostava de praticar esportes. Chegou a ganhar uma medalha na modalidade remo estilizado com sua equipe, mas em 1941 com as medidas antissemitas, assim como seu treinador, foi proibida de frequentar o clube e não pôde mais praticar remo, conta-se que depois disso o restante da equipe se recusou a continuar participando das competições.. Como consequência, o restante da equipe decidiu não participar mais das competições em solidariedade.Margot sempre se deu muito bem com sua mãe e sua tarefa no Anexo era ajudar na preparação da comida e na arrumação da cozinha. Sempre se dedicou muito aos estudos e aproveitou o tempo na clandestinidade para fazer cursos por correspondência em nome de Bep. 

Foto tirada da página 2 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Hermann Van Pels (Pseudônimo: Hermann Van Daan)

Era alemão de família judia e possuía nacionalidade holandesa, o que facilitou sua mudança para Amsterdam com a família em 1931. Casou-se em 1925 com Auguste Röttgen, com quem teve um filho, Peter. Na Alemanha ele possuía empresas em diferentes áreas, como a área têxtil e a de condimentos. Em Amsterdam passou a trabalhar como perito em condimentos em uma das empresas de Otto Frank, de quem se tornou amigo. Ele também passou os meses anteriores ao período de clandestinidade levando alimentos, móveis e pertences pessoais para o esconderijo. Durante o tempo que passou escondido precisou vender muitas coisas pessoais para poder comprar alimentos, uma vez que ele e sua família já não tinham mais os talões de distribuição nem os cartões de passe, pois seus nomes foram excluídos do Registro Civil 5 meses após entraram no Anexo Secreto.

Foto tirada da página 3 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Auguste Van Pels-Röttgen (Pseudônimo: Petronella Van Daan)

Era alemã e recebeu a nacionalidade holandesa ao se casar com Hermann Van Pels aos 25 anos de idade. Uma mulher elegante que se dedicava a cuidar da família. Sua função no Anexo Secreto era de cozinheira, o que muitas vezes era complicado devido à escassez de alimentos.

Anne sempre entrava em atrito com a Sra Van Pels, mas em uma parte de seu diário, mais precisamente em 09 de agosto de 1943, entre outras coisas, escreveu o seguinte sobre ela:

“Mas há coisas que preciso dizer dela: primeira, é trabalhadeira; segunda, alegre; terceira, coquete – e ocasionalmente, bonita. Essa é Petronella van Daan.”

Foto tirada da página 3 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Peter Van Pels (Pseudônimo: Peter Van Daan)

Filho único do casal Van Pels, aos 10 anos se mudou para Amsterdam com os pais. Há relatos de que Peter tinha habilidades com trabalhos de carpintaria. E ao que parece, aos 14 anos entrou para um curso técnico profissionalizante onde também aprendeu a estofar móveis, além disso, gostava de jogar futebol. Quando, aos 15 anos de idade, precisou ir para o Anexo Secreto levou sua gata Mouschi, da qual ficou responsável. Sua funçao no Anexo é subir com as compras que chegam no armazém, cortar lenha e fazer pequenos consertos de carpintaria. Foi com Peter que Anne deu seu primeiro beijo.

Foto tirada da página 3 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Fritz Pfeffer (Pseudônimo: Albert Dussel)

Nascido em Giessen, na Alemanha. Seus pais tinham uma loja de roupas e eram judeus praticantes. Gostava de nadar, remar e cavalgar. Primeiro cursou medicina e depois, já em Berlim cursou odontologia e abriu seu consultório odontológico. Fez parte do regimento de infantaria durante a Primeira Guerra Mundial, na qual participou de algumas batalhas. Casou-se em 1926, teve um filho, Werner, a quem educou com muita disciplina e severidade após ter se separado da esposa em 1933. Anos depois se apaixonou por Charlotte, que por ser católica, não puderam se casar devido às leis raciais da época. Em 1938, com as ameaças nazistas, ele enviou seu filho para a Inglaterra em um navio, para que fosse cuidado por seu irmão. Não conseguiu ir junto pois havia limite de refugiados judeus para entrar no país. 

Se mudou com Charlotte para a Holanda e durante alguns anos tentou emigrar para a Austrália e América, mas não teve sucesso. Em Amsterdam fez amizade com os Frank e Miep. Aliás, foi através de Miep que ele conseguiu ir para o Anexo Secreto em novembro de 1942. No esconderijo ele ajudava a descascar as batatas, lavar a louça e fazia os atendimentos odontológicos e médicos. 

Foto tirada da página 3 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Quem eram os ajudantes do Anexo Secreto

Durante o período em que os oito clandestinos estavam impedidos de sair do Anexo Secreto, pessoas de confiança forneciam ajuda, levando mantimentos, roupas, livros e outras coisas essenciais, além de distração e informações sobre o que estava acontecendo fora do esconderijo. Essas pessoas eram: 

Johannes Kleiman (Pseudônimo: Senhor Koophuis)

Amigo e parceiro de negócios de Otto Frank, foi ele quem sugeriu a casa de trás para esconderijo das famílias Frank e Van Pels e quem ajudou a levar os móveis para o local. Johannes assumiu uma das empresas de Otto na época da “arianização” forçada pelos nazistas. Além de sempre ajudar aos 8 clandestinos, ele também escrevia para o irmão de Edith dando notícias, de forma meio disfarçada, obviamente. Sua esposa também sabia do segredo e ajudava como podia, inclusive foi ela quem vendeu o casaco de peles de Auguste Van Pels no mercado negro. 

Foto tirada da página 4 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Victor Kugler (Pseudônimo: Senhor Kraler)

Amigo e funcionário de Otto Frank. Foi dele a ideia de construírem uma estante de livros giratória para camuflar a entrada do esconderijo (construída pelo pai de Bep). Também assumiu a liderança de outra empresa de Otto Frank ao final de 1941. Ele costumava levar jornais e revistas semanalmente para os clandestinos e sempre que podia ia durante o almoço passar um tempo com eles.

Foto tirada da página 4 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Miep Gies (Pseudônimo: Miep Van Santen)

Nascida em Viena, na Áustria com o nome de Hermine Gies, ela estava desnutrida quando foi enviada para a Holanda durante a Primeira Guerra Mundial, lá recebeu de seus pais adotivos o nome de Miep. Em 1933 começou a trabalhar na Opekta, empresa dirigida por Otto Frank, e logo tornou-se amiga da família. Ela e seu esposo, Jan, ajudaram a levar alguns objetos dos Frank no dia da fuga, escondidos em seus casacos. Ela era responsável por comprar carnes e verduras para os clandestinos. Além disso, também pegava livros na biblioteca em seu nome para que eles pudessem ler durante o tempo que estavam escondidos. Foi Miep quem guardou os diários de Anne deixados pelos nazistas e o entregou ao pai dela após a confirmação de sua morte. Além disso, Miep e seu esposo Jan abrigaram Otto Frank após o final da Guerra, ele morou com eles por 7 anos. 

Foto tirada da página 4 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Elisabeth Van Wijk-Voskuijl (Pseudônimo: Elli Vossen)

Mais conhecida como Bep, aos 18 anos começou a trabalhar na área administrativa da Opekta e tornou-se amiga de Miep e dos Frank. Seu pai, Johanes Veskuijl, posteriormente também passou a trabalhar na empresa como mestre do armazém. Bep era responsável por comprar leite, pão e produtos de limpeza para os clandestinos, às vezes levava as roupas de Anne e de Margot para sua irmã consertar e também os ajudava comprando remédios e cursos em seu nome. Ela tinha uma ótima relação com Anne, ambas partilhavam do gosto por cinema e pelos atores. Bep chegou a passar uma noite no Anexo Secreto. Ela, junto com Miep, encontrou o diário de Anne e recolheram as folhas que estavam espalhadas pelo chão com o intuito de um dia devolverem à Anne.

Sobre Bep, Anne escreveu em 09 de agosto de 1943: “…Elli é boa de garfo. Não deixa nada no prato e não escolhe comida. É fácil de agradar, e é por isso que nos agrada. Alegre, bem-humorada, sempre disposta, estas são as suas características.”

Foto de Bep Voskuijl, que ajudou aos clandestinos do Anexo Secreto.
Foto tirada da página 4 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Jan Augustus Gies (Pseudônimo: Henk Van Santen)

Conheceu Otto através de Miep, com quem se casou anos depois. Ele e Otto tornaram-se amigos e junto com Victor criou uma empresa para assumirem os negócios de Otto Frank a pedido do amigo. Jan fez parte da Resistencia e, como era funcionário público, ajudava aos clandestinos com talões de distribuição (os talões e os cartões faziam parte do sistema de distribuição de alimentos do governo na época). Além disso, ia todos os dias ao Anexo Secreto durante o horário de almoço para conversar com os amigos e às vezes levava cigarros para o Sr. Hermann Van Pels.

Foto de Jan Gies, ajudante dos clandestinos que viveram no Anexo Secreto. Na Foto tirada do livro descrito na legenda há uma frase que  Eva, filha adotiva de Otto Frank escreveu em 2008 sobre Jan: "Simpático, mas muito contido".
Foto tirada da página 5 do livro “Anne Frank no esconderijo – Quem era quem?”

Quando o Anexo Secreto foi Descoberto

Em 04 de agosto de 1944 a polícia alemã recebeu uma denúncia anônima sobre a existência do anexo. Ao menos essa é uma das versões sobre a descoberta do anexo secreto, especula-se que tenham sido traídos, mas também que foram descobertos ao acaso.

Por anos o caso foi investigado e, como afirmam historiadores e pesquisadores, não há evidências suficientes que comprovem o que de fato ocorreu. Portanto, apesar de várias teorias e suspeitas ainda não se sabe como eles foram descobertos pelos nazistas. 

Fato é que nesse dia, Anne e as demais pessoas que estavam escondidas no Anexo Secreto foram capturadas pelos nazistas e levadas para interrogatório. Também foram presos o Sr. Johannes Kleiman e o Sr. Victor Kugler por terem ajudado aos judeus. Após quatro dias detidos em Amsterdam, os 8 clandestinos foram deportados. 

Parte da Maquete do Anexo Secreto

O que houve com os ajudantes do Anexo Secreto

O Sr. Kleiman e o Sr. Kugler permaneceram detidos por algumas semanas e, declarados inimigos do regime, foram enviados ao campo de concentração de Amersfoort. Como o Sr Kleiman tinha uma doença estomacal, com a ajuda da Cruz Vermelha, ele conseguiu voltar para casa após algumas semanas. 

Já Victor Kugler passou também pelos campos de concentração em Zwolle e Wageningen onde fez trabalhos forçados e, posteriormente, ao final de março de 1945 foi obrigado marchar para a Alemanha com outros seiscentos prisioneiros. Durante esse trajeto ele conseguiu fugir, teve ajuda de algumas pessoas que lhe deram um documento falso e voltou para casa, onde ficou escondido até o final da Guerra.

Sobre o diário de Anne, assim que os policiais saíram do Anexo Secreto, Miep e Bep entraram para tentar recuperar alguns pertences dos amigos, encontraram tudo revirado e quebrado, mas conseguiram reunir as folhas dos diários de Anne que estavam jogadas pelo chão e seu diário de capa xadrez. 

Livro que comprei na biblioteca da Casa de Anne Frank, super recomendo!

Campos de Concentração Nazistas

 A saber, desde que Adolf Hitler ascendeu ao poder na Alemanha em 1933, foram construídos vários campos de concentração e de extermínio nazistas. Nesses campos, milhares de pessoas foram levadas para trabalhos forçados, passaram por situações degradantes, fome, sede, abusos, torturas, entre outras situações desumanas e milhares foram exterminados em câmaras de gás. 

Para não me estender mais nesse tema, vou me ater somente os campos pelos quais Anne Frank e os outros 7 clandestinos passaram. 

Importante ressaltar que apesar de a grande maioria cruelmente exterminada durante a Segunda Guerra Mundial ter sido de judeus, outros grupos de pessoas também sofreram com as barbáries do Nazismo, seja por razões raciais ou ideológicas. Como por exemplo: ciganos, yeniches, poloneses, Testemunhas de Jeová, homossexuais, comunistas, socialistas, deficientes físicos, entre outros, eram vistos pelos nazistas como inferiores.

Os nomes com pontos vermelhos são de alguns campos de concentração nazista que funcionaram durante a Segunda Guerra Mundial

Polônia

Auschwitz – Esse foi o nome dado pelos alemães ao maior complexo de campos de concentração e extermínio localizados na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial. Considerado o maior símbolo do Holocausto.

Auschwitz era subdividido em vários campos de concentração, entre os quais os três mais importantes eram: Stammlager Auschwitz (Auschwitz I), Auschwitz-Birkenau (Auschwitz II) e Auschwitz Monowitz(Auschwitz III). Sendo que Auschwitz-Birkenau foi o maior campo de extermínio nazista, milhares de judeus eram transportados de várias partes da Europa para serem assassinados nas câmaras de gás desse campo. Foi liberado em pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. Desde 1947 há um museu onde funcionavam Auschwitz I e II e desde 2022 Auschwitz-Birkenau foi declarado Patrimônio da Humanidadepela UNESCO.

Áustria

Mauthausen – Era o complexo de campos de concentração nazista localizados na Áustria. Este foi o maior campo de trabalho escravo da Europa durante a Segunda Guerra Mundial. A maioria dos prisioneiros em Mauthausen eram pessoas de maior grau de instrução ou da alta sociedade. Entre outras coisas, eles foram obrigados a construir rotas de tráfego, usinas de energia, fábricas e armazéns. Com a evolução da Guerra, passaram a ser obrigados a trabalhar na produção de armas, de munições e nas minas, além de construírem bunkers contra ataques aéreos. Esses bunkers também serviam de fábricas de aviões de guerra. Foi o último complexo a ser liberado pelos aliados, em maio de 1945.

Alemanha

Bergen-Belsen – Um dos maiores campos de concentração nazista na Alemanha. A princípio recebia os presos políticos e pessoas ligadas à Resistência, logo após 1943 os judeus e demais prisioneiros também passaram a ser enviados para esse campo. Apesar de não ser considerado um campo de extermínio (pois não tinham as câmaras de gás), milhares de prisioneiros foram mortos ou por passarem fome, ou por doenças (tifo e disenteria, por exemplo) ou mesmo pelas torturas a que eram submetidos ali. 

Neuengamme – Campo de concentração localizado no norte da Alemanha. Nesse campo o trabalho era mais voltado à produção de tijolos, por isso os prisioneiros eram obrigados a cavar o solo em condições insalubres, o que levou à morte de cerca de 50 mil pessoas por exaustão e doenças. Nesse campo também eram feitas experiencias médicas e científicas usando os judeus como cobaias, inclusive chegaram a cometer a atrocidade de injetar bacilos de tuberculose em 20 crianças entre 5 e 12 anos, enforcando-as posteriormente.

Ao ser liberado em abril de 1945, os britânicos encontraram uma quantidade enorme de corpos entulhados. A maioria dos blocos onde ficavam os prisioneiros foi incendiada. Atualmente possui um centro de visitantes e memorial que são abertos ao público.

Países Baixos

Westerbork – Localizado nos Países Baixos (também conhecido como Holanda), servia como campo de trânsito, afinal ali chegavam os trens com os prisioneirosque eram mantidos em Westerbork até serem selecionados e deportados ou para campos de trabalho forçado ou para campos de extermínio, a maioria ia para Auschwitz. Esse campo foi liberado pelos aliados em 12 de abril de 1945. Atualmente no local há um museu, vários monumentos e o Memorial Nacional de Westerbork.

Primeiramente, eles foram levados para o campo de concentração de Westerbork, onde faziam trabalho forçado (entre outras coisas, tinham que desmontar baterias e manipular substâncias tóxicas). 

No mês seguinte, Anne e os demais foram enviados ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, onde homens e mulheres eram separados e, onde viram seu pai Otto pela última vez. Nessa ocasião a Sra. Auguste Van Pels também foi separada de seu filho Peter e de seu esposo Hermann.

Destino dos 8 clandestinos após serem enviados à Auschwitz

Destino de Anne Frank e Margot Frank 

Entre o final de outubro e o início de novembro de 1944 Anne e sua irmã Margot foram separadas da mãe e transferidas para o campo de concentração Bergen-Belsen. Ali, as condições eram ainda mais precárias e os prisioneiros ficavam susceptíveis a contaminações diversas, pois nesse campo não havia infraestrutura alguma, os cadáveres não eram cremados e nem enterrados, ficavam expostos em vários locais do campo. 

Além da fome e do frio extremo, Margot contrai tifo e em seguida Anne também é acometida pela doença. 

Margot faleceu aos 19 anos de idade, em fevereiro de 1945 e, pouco tempo depois, Anne também foi a óbito pela doença e por exaustão. Anne tinha 15 anos quando faleceu, apenas um mês antes da libertação do campo. 

Não se sabe a data exata da morte das duas irmãs e tampouco se sabe exatamente o local onde foram enterradas. Contudo, há uma lápide simbólica em homenagem a elas no local onde ficavam os barracões do campo de concentração Bergen-Belsen.

Margot e Anne em fotos tiradas para a escola em dezembro de 1941

Destino de Edith Frank 

A mãe de Anne permaneceu em Auschwitz e sofreu muito ao ser separada das filhas. Segundo uma testemunha, Edith adoeceu e foi enviada para a enfermaria onde faleceu por inanição e exaustão em 06 de janeiro de 1945. Ela tinha 44 anos de idade.

Destino de Auguste Van Pels

Em fevereiro de 1945 foi novamente deportada, desta vez para Raguhn, um ¨campo satélite¨. Em abril de 1945 foi novamente colocada num trem, desta vez para Theresienstadt, mas não chegou ao destino final desse trajeto. Não se tem certeza dos fatos, porém, segundo uma testemunha, Auguste foi jogada pelos nazistas para debaixo do trem. Ela tinha 44 anos de idade quando foi assassinada.

Destino de Hermann Van Pels

Segundo Otto Frank, o Sr. Hermann feriu o polegar gravemente e, logo em seguida, foi selecionado juntamente com outros homens e levado pelos vigias alemães. Não se sabe ao certo quando, mas entre outubro e novembro de 1944, aos 46 anos de idade ele foi assassinado.

Destino de Peter Van Pels

Em Auschwitz I, Peter ficou encarregado do serviço postal até que em janeiro de 1945, decidiram evacuar Auschwitz devido à aproximação do Exército Vermelho. Ele foi um dos judeus obrigados a participar da sofrida caminhada até o campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Esse deslocamento de milhões de judeus ficou conhecido como “Marcha da morte” ou “Marcha fúnebre”.

Peter conseguiu sobreviver à dura jornada e chegou em Melk (subcampo de Mauthausen), onde fez trabalhos forçados nas minas. Devido às condições desumanas, ele adoeceu e foi para a enfermaria. O exército americano libertou esse campo em 05 de maio de 1945 e, consta na lista médica americana que Peter faleceu aos 18 anos de idade no dia 10 de maio de 1945.

Destino de Fritz Pfeffer

Em Auschwitz I, Fritz foi forçado a trabalhar na construção de estradas até ser transferido para o campo de concentração de Neuengamme, na Alemanha, onde adoeceu devido aos maus-tratos e privações. Faleceu de exaustão em 20 de dezembro de 1944 aos 55 anos de idade.

Destino de Otto Frank 

Em Auschwitz-Birkenau, Otto fez trabalhos forçados numa mina de cascalho, depois na construção de estradas até que, devido ao mal tempo, as construções foram paralisadas e ele passou a descascar batatas. Em dado momento foi espancado, mas obteve ajuda para ser internado no quartel. Com a proximidade do exército soviético os nazistas obrigaram aos prisioneiros a marcharem rumo à Áustria. Otto que estava muito fraco e outros que também não tinham condições de andar foram deixados no quartel dos doentes. Em 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas liberaram o campo de concentração de Auschwitz. 

Como a Guerra ainda não havia terminado, as viagens eram longas devido aos desvios que precisavam fazer. Com isso, somente em 3 de junho de 1945 Otto chegou em Amsterdam. No trajeto soube que sua esposa havia falecido, quem lhe contou foi Rosa de Winter, sobrevivente que esteve presa junto com Edith.

Ao chegar em Amsterdam ficou feliz por saber que todos os amigos que o ajudaram estavam vivos. Um mês depois foi informado pelas irmãs Brilleslipjper, que estiveram presas em Bergen-Belgen, que suas filhas, Anne e Margot, haviam falecido.

A publicação do Diário de Anne

Diante dessa triste notícia, sendo Otto o único sobrevivente dos 8 clandestinos do Anexo Secreto, Miepe entregou a ele os diários de Anne que havia guardado. Após um tempo, ele decidiu publicar os diários da filha, teve dificuldades a princípio, mas conseguiu uma editora que o publicou 2 anos após a Guerra. 

Otto morou com Jan e Miep alguns anos em Amsterdam e em 1952 mudou-se para a Suíça. Em 1953 se casou com Fritzi Geiringer que tinha uma filha com a mesma idade que teria Anne. Ao longo dos anos esteve envolvido com as atividades do Museu Casa de Anne Frank, lutou pelos direitos humanos em todo o mundo e participou de conferências internacionais de jovens em Amsterdam.

Ele recebeu inúmeras cartas de leitores de vários lugares do mundo e, junto com sua esposa, respondeu à cada uma delas. Otto faleceu aos 91 anos de idade, em 19 de agosto de 1980.

O impacto dessa história

Mas, afinal, qual a importância disso tudo? Será que realmente a história vivida por essas pessoas impactou em algo na vida dos outros. Sinceramente acredito que sim, além das palestras e conferências, a Organização Anne Frank investe em pesquisas e promove eventos e materiais educativos. 

Penso que a história deve ser contada e recontada sempre, por mais triste, perversa e vergonhosa que tenha sido essa época e as ações cometidas contra milhares de judeus, ciganos, poloneses, homossexuais, presos políticos, pessoas com deficiência e tantas outras vítimas do nazismo, que eram consideradas inferiores por eles.

Enquanto escrevia esse post tive que parar várias vezes e me acalmar, pois era impossível conter as lágrimas. Apesar de já saber da história e de todo horror que o nazismo disseminou, pensar na vida e no sofrimento dessas pessoas me dói de uma forma tão profunda, não consigo conceber como o ser humano pode ser tão cruel e destrutivo. Que Deus tenha piedade de nós e que não permitamos mais que atrocidades como essas voltem a acontecer.

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